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A infografia costuma acompanhar as notícias de ruptura (acontecimentos imprevistos e de grande impacto na vida e na opinião pública) e é produzida por profissionais mestiços (oriundos de áreas como as belas-artes e design publicitário, a que juntam a necessidade do discurso jornalístico), com características específicas de utilidade e visualidade.
Infografia: Jornais portugueses têm pouca produção própria
Publicado: 11.07.2006 | 11:50 (GMT)
Alberto Cairo diz que jornais portugueses usam muitas infografias de agência, o que lhes retira prestígio. “Expresso” produz “muito boa infografia”.
O antigo director do departamento de infografia do jornal espanhol “El Mundo” analisou, a convite do JPN, alguns jornais portugueses que usam desenhos gráficos para ilustrar o 11 de Março, em Madrid. Alberto Cairo reconhece que a infografia é ainda considerada “um género menor” e que um jornal de referência deveria ter, no mínimo, oito infografistas.
Um jornal nacional e de referência, quantas pessoas deve ter no departamento de infografia?
Depende muito das suas vendas. Em Espanha, o “El País”, que vende cerca de 400 mil exemplares por dia, tem oito infografistas impressos e dois “online”. O “El Mundo”, que vende cerca de 330 mil exemplares, tem oito ou nove pessoas no impresso e cinco no online. Mas há jornais mais pequenos, como “La Voz de La Galicia”, que tem seis pessoas na infografia impressa e nenhuma na “online”.
Então, um diário como o “Público”, que tem três infografistas, ou o “Diário de Notícias” (cinco), quantos profissionais deveria ter?
Eu diria que um periódico de referência e de qualidade de um país deve ter, no mínimo, sete pessoas no departamento infográfico impresso e uma no online (no mínimo). Mas têm de trabalhar em equipa.
O que pensa do trabalho dos jornais portugueses ao nível infográfico?
Conheço pouco da imprensa portuguesa, no que concerne à infografia. Conheço o trabalho do “Expresso”, que faz uma infografia muito boa em geral. O “Público” também tem alguns gráficos interessantes. O que reparei é que os jornais portugueses tendem a usar infografias de agência, não de produção própria. Usar gráficos de agência é como usar notícias de agência, retira prestígio.
Analisando o exemplo do 11 de Março, em que os diários recorreram muito a gráficos, como é que está a infografia?
O “Público” está bem organizado, usando exactamente o gráfico que publicou o “El Pais”. O “Jornal de Notícias” usa, também, um gráfico muito organizado, feito no próprio jornal. No “Correio da Manhã”, todas as bombas a explodir são prescindíveis. É dar espectáculo. É um gráfico muito confuso e não ajuda nada o excesso de cor. Nem se sabe por onde começar a ler.
No caso de um atentado, os infografistas têm de reagir com muita rapidez. Como é que se gere a urgência jornalística das “breaking news” com a produção de reportagens multimédia?
Este tipo de situações é sempre muito difícil, porque fazer uma reportagem infográfica é muito mais complexo do que escrever uma notícia. Posso escrever uma notícia em cinco minutos, mas uma infografia não. À medida que se enfrentam estas situações, adquirem-se mais conhecimentos tecnológicos e velocidade. Por outro lado, desenvolvemos técnicas de trabalho em equipa.
Quais são as principais diferenças entre a infografia impressa e a “online”?
Há muitas. A principal é que a infografia “online” é, obviamente, animada, interactiva e multimédia. Pode-se sequenciar a acção, o que é muito difícil de fazer num papel. E pode-se juntar interactividade e deixar que o leitor maneje os gráficos, mude a informação. Pode-se também incorporar áudio, vídeo, animações em 3D. Ao mesmo tempo, o espaço disponível em papel é limitado, na internet não. De uma forma que se tem uma capacidade ilimitada de proporcionar contexto.
Há muito mais vantagens no “online” do que no papel?
Sim. Mas, ao mesmo tempo, tem algumas desvantagens. Por exemplo, a qualidade da imagem não é a mesma que no meio impresso. Em papel, o espaço físico é maior do que na internet, mas na internet considera-se espaço-tempo e é ilimitado.
Num gráfico em papel controla-se o espaço e num gráfico online controla-se o tempo e o espaço?
Claro, isso é a sequenciação da acção. Em papel, apresenta-se logo toda a informação: título, diagrama, tabela, cronologia. Na internet, não se faz da mesma maneira, sequencia-se a acção. Dá-se a possibilidade ao leitor de aceder a cada peça de informação através de links.
O tempo é a quarta dimensão. E a interactividade?
Sim, a quarta dimensão é o tempo. Na internet, chamo à “quinta dimensão” a interactividade, a possibilidade de ter “links”, que levam a peças específicas. Mas a interactividade significa também a possibilidade de manipular a informação. Por exemplo, no caso de uma partida de futebol, o leitor pode manejar os jogadores.
Aplicando a interactividade ao jornalismo, o leitor ao transformar-se num co-autor, não acaba por perverter o poder autoral do jornalista?
Não. Tudo depende de como se apresenta a informação. Olhemos para o mapa do “New York Times” das eleições presidenciais de 2004, nos Estados Unidos. Primeiro, apresentam-se os resultados definitivos. Depois, dá-se a possibilidade ao leitor de mudar os estados para ver onde deveria ter ganho John Kerry para ganhar a eleição. Não se perverte em nada a informação.
O jornalista não perde poder?
Não, porque não se dá a liberdade absoluta ao leitor de fazer o que quer. Dá-se liberdade dentro de parâmetros específicos.
Qual é o estatuto da infografia? Vai estar sempre dependente do jornalismo, é uma linguagem menor?
Não. A infografia usa-se para muitos campos, não apenas no jornalismo. Qual vai ser o seu futuro? Não sei. É um género menor agora mesmo? Sim, porque muitos jornais consideram-na como algo secundário, o que é um erro. Mas creio que isso vai mudar com o tempo, assim que se compreenda o poder deste tipo de representações para apresentar a informação.
“Infografia não é uma linguagem do futuro, é do presente”
Publicado: 11.07.2006 | 11:20 (GMT)
Alberto Cairo fala sobre “jornalismo infográfico”. No recrutamento de jornalistas pesa mais o conhecimento tecnológico do que o conhecimento teórico.
Alberto Cairo é especialista em design e artes visuais. Professor de jornalismo na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e antigo director do departamento de infografia na edição “online” do “El Mundo”, considera a infografia como um “género jornalístico”, mais adequada do que o texto para transmitir “dados frios”.
O especialista, que na semana passada deu um “workshop” sobre o tema na Universidade do Porto, admite também que, na maior parte dos jornais, os infografistas não são reconhecidos como jornalistas.
Como é que define a infografia moderna?
A infografia significa a apresentação visual de dados, sejam dados estatísticos, sejam mapas ou diagramas. Trata-se das três formas que adopta a infografia no jornal impresso.
Se a infografia é a linguagem que resume dados em desenhos, qualquer ilustração é uma infografia?
Não, nem todas as ilustrações são infografias. Para que a ilustração se considere infografia tem que explicar algo, contar uma história, transmitir informação como uma notícia.
Podemos chamar à infografia noticiosa um género jornalístico?
Formalmente a infografia não está aceite como um género jornalístico, mas estou convencido de que o é. A infografia é a aplicação das regras do desenho gráfico para contar histórias. Assim, se se contam histórias jornalísticas pelo meio do desenho gráfico, isso é um género jornalístico, sem dúvida.
Podemos então dizer que infografia significa “jornalismo visual”?
Sim, é um dos ramos do jornalismo visual.
E existe o conceito de jornalismo infográfico?
Efectivamente, pode falar-se de jornalismo infográfico sempre que a infografia se utilize para contar histórias jornalísticas. É infografia jornalística.
O “jornalismo infográfico” vai ser a linguagem jornalística do futuro?
Sim e não. A infografia não é uma linguagem do futuro, é uma linguagem do presente. Tem vindo a ser utilizada desde que há jornais, praticamente. Será uma linguagem jornalística do futuro? Sim, e será muito utilizada, mas isso não quer dizer que não existam outras linguagens jornalísticas que não serão utilizados em igual medida.
E nunca substituirá o jornal impresso?
Não, da mesma forma que a televisão não substitui o rádio e a rádio não substitui a linguagem escrita. A infografia é apenas mais uma linguagem, outra forma de contar histórias. Nem todas as histórias podem contar-se de maneira infográfica, da mesma forma que nem todas as histórias se podem contar bem em texto.
Por exemplo?
Não se pode contar uma história com interesse humano através de uma infografia. No caso do acidente de metro que houve em Valência onde morreram 42 pessoas, a infografia não permite contar como as famílias das vítimas experimentaram a tragédia. Por outro lado, a infografia é muito melhor para explicar por que é que o comboio descarrilou, por que chocou, onde chocou, quanta gente morreu, quanta gente está viva. A infografia é muito melhor para transmitir os dados frios, os dados duros.
Os jornalistas estão preparados para fazer infografias?
Depende de onde provenham. Qualquer jornalista que saia de uma carreira de jornalismo, em princípio, estará capacitado para entender a infografia como uma linguagem jornalística. Isso não quer dizer que qualquer jornalista esteja capacitado para fazer infografia. Para a fazer são precisos conhecimentos técnicos, assim como para escrever, para fazer televisão, etc.
Qual deve ser a formação do jornalista na faculdade?
O jornalista deve receber um formação geral sobre todos os géneros jornalísticos que existem. Tem de aprender a analisar não só a notícia escrita, mas também a reportagem, a crónica, a entrevista, tem de aprender algo de fotojornalismo e tem de aprender também as bases da infografia. Tem também de haver um curso básico de aprendizagem de infografia.
Só depois viria a especialização?
Tem de haver, obviamente, especializações. Vai haver jornalistas que vão para o meio escrito, outros para a televisão. Dentro dos que vão para o meio escrito, pode haver um ramo mais relacionado com o desenho gráfico, onde se incluem cursos avançados sobre criação de infografia impressa, multimédia e “online”.
No recrutamento de jornalistas, hoje em dia, pesa mais ter bons conhecimentos sobre História, política e relações internacionais ou dominar ferramentas multimédia que permitam fazer, por exemplo, jornalismo infográfico?
Pesa mais o conhecimento tecnológico do que o conhecimento teórico. No caso de ter de contratar alguém para o meu departamento de infografia, vou contratar a pessoa que saiba manejar as ferramentas, mesmo que num nível muito básico, mas que seja também um bom jornalista. Não contrataria nunca alguém que não soubesse manejar ferramentas.
De forma realista, pensa que os jornalistas em geral têm uma literacia visual, isto é, conhecimentos visuais que lhes dêem sensibilidade para condensar informação num desenho gráfico?
Depende. Nem toda a gente está capacitada para fazer infografia. Mas há gente que está muito capacitada, mesmo que nunca tenham feito. Encontrei muitos jornalistas nos jornais onde trabalhei, que nunca tinham feito uma infografia na vida, mas eram capazes de desenhar algo e contar o que se passara quando viam um acidente.
Portanto, só uma pequena percentagem de jornalistas faz infografias?
Sim, uma pequena percentagem.
Qual o estatuto do infografista que trabalha num jornal? É considerado um jornalista ou um desenhador gráfico?
Depende dos países e dos jornais. Na maior parte dos jornais, é considerado um desenhador gráfico. Mas nos jornais mais avançados, naqueles que produzem a melhor infografia do mundo, os infografistas são jornalistas. É o caso do “New York Times”, do “El Mundo” e do “El Pais”.
O que transforma um desenhador gráfico num jornalista?
Aprender a contar histórias e aprender as regras pelas quais se rege qualquer repórter. Deve, também, aprender a escrever notícias, reportagens, crónicas, entrevistas, e saber consultar e confrontar fontes.